sábado, 17 de março de 2018

O caso Marielle Franco e os discursos ideológico de conveniência.

O caso Marielle Franco e os discursos ideológicos de conveniência
Imagem do blog Rap e Filosofia
Estamos vivendo o inoportuno momento em que parcelas da sociedade formam suas convicções a partir de meros discursos de conveniência ideológica. E o resultado é que a sociedade brasileira está ficando dividida a tal ponto que, mesmo ante os atos extremos de um assassinato brutal como o que aconteceu agora com a vereadora Marielle Franco, todos tentam conformar suas posições sob argumentos que fogem a qualquer razão. E passam, então, de seres humanos que somos, a defensores de ideias e opiniões quase inconcebíveis para a espécie que tenta se colocar no topo da cadeia evolutiva. O enrijecimento ideológico tomou contornos tal, que passamos a defender nossas posições como se o extremo que ocupamos detivesse todo o monopólio da razão, não nos restando espaço suficiente para um lampejo de lucidez onde fosse possível fazer uso de outras faculdades a nós inerentes, que não o ódio contra aqueles nos contrariam.

É essa visão monocular - que não nos permite enxergar distância maior que aquela que alcança o centro de nossos umbigos - que as vezes nos faz parecermos imorais e até mesmo idiotas. E idiotas, aliás, é o que querem que sejamos, afinal, quando sucumbimos ingenuamente a um ponto de vista único, nos tornamos, por assim dizer, docilizados, lenientes e convenhamos, bastante estúpidos por acharmos que do lado de cá as flores brotam sem espinhos. É isso que fazemos, por exemplo, quando sem o devido discernimento, passamos a consentir com o espúrio se ele diz respeito à ótica com que vemos o mundo. É nessa instância que se legitimam as corrupções, os 'direitos' excessivos, a escassez de deveres, enfim, o vale-tudo, quando o 'tudo' convém à ideologia a qual servimos. Seja para, por meio de uma lógica absurda, tentar humanizar a figura do traficante, ou, pelo desvairo cego da arrogância odiosa, manifestar os baixos valores do preconceito, do racismo e de todos os ismos da elite burra. Fato é que quando nos tornamos imorais inconscientes em defesa de uma causa, acabamos também por denunciar a própria causa como imoral.

Atendo-nos, aos fatos, porém, que ora motivou esta breve publicação - a repercussão do assassinato de Marielle Franco - convido-os a observá-lo além da mesquinhez ideológica e perscrutar por onde a razão nos manda: quem fomenta o tráfico? Quem é conivente com a existência das milícias? Qual o papel do playboy com um cigarro de maconha na mão? Enfim, para onde vão os lucros da carnificina? As questões não se encerram nem se principiam nos disparos que mataram Marielle, tão pouco em cada policial anônimo que tomba diariamente ante a violência no Brasil. Há um elo que engendra uma cadeia de partícipes bem maior do que aquela que as vagas acusações do discurso ideologizado alcançam, e envolvem um Estado falido, estraçalhado pela corrupção, inapto para se fazer presente onde deveria, incapaz de fazer da educação a mola propulsora da transformação social e econômica, apoiado sobre instituições falidas e representado pelo cinismo de governantes e seus sequazes que tripudiam do bom senso.

O lamentável de fatos como a recente tragédia - como se a morte de cidadãos vítimas da violência diariamente já não se constituísse em tragédia suficiente - é que coisas assim têm servido apenas à qualificação ideológica de um discurso onde ambas as partes deixam-se absorver pela conveniência de seus argumentos e recusam-se a falar sobre o que realmente importa. O absurdo que estamos vivendo superam os interesses de gênero, raça ou cor. Tais demandas são legítimas e não concorrem com a morte de policiais ou com os absurdos da violência do crime organizado a que estamos submetidos. Pelo contrário, tanto a violência de gênero como a violência do tráfico ou a morte de policiais, são cenas de um mesmo espetáculo. O espetáculo dos horrores a que estamos sucumbindo, sob o aplauso dos ideologizadores de toda essa miséria.

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